terça-feira, 14 de abril de 2009

Coelhinho Ovíparo

Toda a Páscoa eu me vejo diante do desdobramento do comportamento humano no que tange a replicar a essência de nossos mecanismos com o consumo.
Quando adulto, somos moldados em nome do bom comportamento social a dissimular vontades e reações, deste modo o que alguns chamam de educação, a comunicação vê como disfarce. 
Nas crianças, que são os verdadeiros homens, afinal não ocultam seus interesses e querências, demonstram claramente seus mecanismos de satisfação e motivação. 
Na Páscoa, o fato de coelho não por ovo, pouco importa, desde que venha o chocolate e principalmente com o brinquedo.
Com crescimentos na ordem de 20% ao ano, a Páscoa não cansa de dar sinais de ser a data promocional que mais cresce no Brasil.
Nossas crianças se afastam cada vez mais do principio real da comemoração e cada vez mais se desenha um segundo dia das crianças. Assim tudo que a garotada quer mesmo é um álibi para se entupir de chocolate do seu personagem preferido do mundo dos cartoons e brincar com alguma bugiganga, que em dois dias não terá mais nenhuma importância em suas vidas.
E se o negócio é álibi, quer seja criança quer seja adulto, a Páscoa vem ganhando muita notoriedade neste quesito. Se por um lado as crianças deixam quieto o fato de que coelho não põe ovo e que é muito complicado para elas entender o quesito ressurreição e lidar, portanto com a morte; os adultos aproveitam para fugir ao menu tradicional, quer seja nos pratos salgados como também nos chocolates de todos os tipos e formatos, afinal, a oportunidade é perfeita, a dieta que fique para segunda-feira.
Projetando para o consumo, a Páscoa já extrapola o festejo cristão, e tem hoje todos os instrumentos necessários a uma boa performance de vendas. O álibi, a concessão, a permissão, a exceção, a união, o reconhecimento e aprovação de todos, enfim não dá para escapar. Deste modo dizemos para nós mesmos que temos motivos para comprar o que nosso saldo diz não; para comer o que nossa balança diz não; fazer o que nossa rotina diz não.
O processo de consumo precisa reduzir a culpa presente, seja no regime, no comprar, no chutar o pau da barraca e fazer o que se quer, sem disfarces.
Do mesmo modo que a criança se cala para faturar seu chocolate e seu brinquedo, diante das peças que para ela não se encaixam, quer seja coelho, ovo, ressurreição etc., nós também em nome de algumas guloseimas salgadas e doces, vivências e momentos deixamos o não para lá e caímos na festa. E antes que alguém ache isso errado, vai aqui uma ressalva: ainda bem que é assim, como dizia meu avô: ”mais vale um gosto que um vintém no bolso”.
Feliz Páscoa!



por Roberto Mendes

em http://avozdaserra.com.br/colunas.php?colunista=22